quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sabe o que diz o pólen sobre um crime

O seu método de trabalho na investigação criminal ainda é pouco usual. Através do pólen
e dos esporos das plantas ajuda a deslindar o local onde ocorreu um homicídio. É uma entre cinco palinólogos forenses em todo o Mundo.

Séries televisivas do estilo ‘CSI’ ajudam a compreender o trabalho da única palinóloga forense em Portugal, que usa o pólen e os esporos das plantas para determinar se o local onde alguém morreu corresponde ao do crime. Mafalda Faria explica que 'o facto de ter de recolher, processar e analisar amostras forenses' é muito semelhante às perícias feitas na ficção televisiva. Só não detém nem interroga suspeitos.
Mafalda entra no local do crime vestida com um fato, luvas e protecções de calçado que evitam a contaminação das provas, sempre empunhando uma máquina fotográfica. Com tesoura e bisturi corta porções das plantas existentes naquele ambiente e coloca-as em envelopes. No caso de homicídios recolhem-se plantas, solo e amostras do cabelo e cavidades nasais da vítima e, por exemplo, da sua roupa ou outros pertences. 'Se quiser saber a origem geográfica ou o percurso de um objecto é necessário determinar se a associação de espécies [biológicas] é característica de um ambiente/habitat', explica a palinóloga forense. Quer assim dizer que ao comparar as amostras recolhidas no cadáver com as do solo e plantas confirma-se se a vítima morreu naquele local exacto ou se foi transportada para ali.
'Sinto que dou alguma contribuição no combate à criminalidade, mas a minha motivação maior é contribuir para que se faça justiça para as vítimas e sua família', afirma Mafalda. Investigadora no Instituto de Medicina Legal e, ainda em Coimbra, na Faculdade de Ciências e Tecnologia, a palinóloga forense trabalha associada à Polícia Judiciária do mesmo distrito e com o Laboratório da Polícia Científica da PJ.
'Ninguém me influenciou para seguir esta linha de investigação', conta Mafalda. Licenciada em Biologia e já pós--graduada em Ciências Médico-Legais, a investigadora contactou pela primeira vez com a Palinologia durante o mestrado em Ecologia quando quis – em conjunto com o estudo de fragmentos de plantas – determinar a dieta do Corço e do Veado. Ficou surpreendida com os artigos publicados pelos palinólogos forenses Patricia Wiltshire, de Inglaterra, e Dallas Mildenhall, da Nova Zelândia. Estes investigadores contribuíam para a resolução de diversos casos criminais. Mafalda decidiu trazer para Portugal este método de investigação através do pólen e dos esporos das plantas – que foi aceite sem condicionalismos.
Aos 39 anos, Mafalda Faria, nascida em Coimbra, revela que a sua profissão não tem riscos. 'Pelo menos, ainda não me senti ameaçada.' Exige sim o aprofundamento de conhecimentos académicos. A investigadora está agora a fazer um pós-doutoramento em Palinologia Forense, depois de se ter doutorado em Biologia. Apesar da sua especialidade estar ainda subaproveitada, Mafalda vê o futuro com optimismo. O número crescente de investigadores nesta área fá-la acreditar que brevemente terá maior utilização e desenvolvimento.

SÃO CINCO EM TODO O MUNDO

Os grãos de pólen (produzidos pelas flores e pinhas masculinas das plantas) e esporos (células reprodutoras assexuadas produzidas pelas plantas e fungos) têm características morfológicas distintivas que permitem a identificação de plantas. Isto possibilita a determinação do tipo de ambiente ou local geográfico de origem das amostras recolhidas no local do homicídio, violação, furto, tráfico de substâncias ilícitas, entre outros crimes. 'Apesar das suas potencialidades, a palinologia forense é uma ciência subtilizada na investigação criminal a nível mundial', explica Mafalda Faria, uma entre cinco profissionais em todo o Mundo. No Reino Unido está Patricia Wiltshire, na Nova Zelândia trabalha Dallas Mildenhall, o professor Bryant Vaugnh nos EUA e, finalmente, a professora Lynne Milne na Austrália.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Associação sindical da PJ lança a revista Investigação Criminal

2011-02-14


A segurança, políticas e polícias e o relacionamento entre o Ministério Público e a Polícia Judiciária são alguns dos temas abordados na revista Investigação Criminal da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC/PJ).
O objetivo da nova revista semestral de Investigação Criminal, Ciências Criminais e Forenses é, segundo a ASFIC/PJ "lançar a discussão" para "encontrar melhores soluções, numa altura em que é constante o aumento da exigência da qualidade da prova".
"É no pressuposto de que o conhecimento que foi sendo adquirido e burilado ao longo de gerações, sendo importante, hoje não basta, que surge a revista, que aposta forte no mais avançado conhecimento científico para um mais eficaz combate ao crime", sublinha a associação.

fonte: http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=1785154

CSI é "um inferno" que distorce investigação real

2011-01-30

As séries de investigação criminal têm levado muitos jovens a seguir esta via, mas o CSI é "um verdadeiro inferno" para quem ensina ou aplica no terreno técnicas como o 'profiling' (criação de perfis), pois distorce a essência deste instrumento contra o crime.
"Tudo é falso. As séries de televisão são um problema muito grave com que temos de lidar, porque as pessoas vêm ter connosco com ideias distorcidas", disse à Lusa Francisca Rebocho, mestre em ciências forenses.

Esta docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa diz que, "desde que o fenómeno CSI se soltou, soltou-se o inferno".
Na formação que dá nesta área, Francisca Rebocho começa por esclarecer sobre a aplicabilidade destas técnicas em Portugal, onde a realidade é muito diferente da passada nas séries de investigação criminal, que reúnem legiões de milhões de fãs em todo o mundo.

Estas séries, esclarece, "são fantasiosas e puro entretenimento", mas "as pessoas baralham tudo e acreditam que, após receberem formação, vão trabalhar em laboratórios sofisticadíssimos e ir para o terreno".

Apesar de diferentes do fenómeno CSI, as técnicas de investigação criminal como o 'profiling' - técnica forense que visa traçar o perfil do criminoso a partir da cena do crime - são reconhecidas como uma ajuda aos investigadores criminais.

Os 'profilers' são, no entanto, "pessoas normais" que adquirem uma formação e não seres especiais, com características fora de série, como a capacidade de ler a mente do criminoso, como algumas séries transmitem.

Na prática, desde sempre que os investigadores criminais recorrem a técnicas do género, com o mesmo objectivo: chegar à origem do crime e ao seu autor.

Barra da Costa, inspector-chefe da Polícia Judiciária e criminologista, está a especializar-se em "perfis de homicídios múltiplos" e prepara-se para apresentar um trabalho em que vai "tentar demonstrar a utilidade dos perfis".

O criminologista revelou que, depois de apurar qual o estado da arte do 'profiling' a nível mundial, vai trabalhar nos estudos de 'profiling' realizados até hoje e aplicá-los a um caso concreto: o estripador português.

Sobre técnicas como o 'profiling', o investigador lembrou que "os psicólogos nunca estão na cena do crime", mas reconheceu que "os polícias conseguem fazer o trabalho dos psicólogos".

"Não basta a teoria. O ideal é saber alguma coisa de investigação criminal e complementar com estudos académicos", defendeu.

Este criminologista reconhece, contudo, que estas técnicas podem ajudar a polícia, nomeadamente a referenciar níveis de personalidade de uma testemunha, por exemplo.

"Se os psicólogos lerem os relatórios, virem os vestígios do terreno e fizerem um perfil, podem chamar a atenção para pequenos pormenores como erros ortográficos ou outros que indiciam características da pessoa, física e não só", disse.

Fernando Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia de Investigação, disse, por sua vez, que "o ideal" será "juntar a teoria à prática".

Este especialista não duvida que técnicas como 'profiling' têm "a sua utilidade", considerando que "há vários aspectos que podem ajudar a investigação criminal".

fonte: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Policia/interior.aspx?content_id=1770884&page=-1

Séries televisivas atraem jovens para a Medicina Legal

2007-03-27

Virgínia Alves, Lisa Soares

Séries televisivas atraem jovens para a Medicina Legal

Cinco dias de um curso de Medicina Legal quase resumidos numa conversa com o seu coordenador, José Pinto da Costa, que diz que algumas séries televisivas despertaram o interesse para alguns aspectos desta área que não eram visíveis, como o exame do local do crime e a observação rigorosa de todos os pormenores nela encontrados.

Crítico, o especialista afirma que numa sociedade "em que tudo é 'light' é impossível haver rigor". As séries, diz Pinto da Costa, "são filmes, onde tudo se passa com muita rapidez, mas o que interessa focar é a metodologia e o espírito. E isso está lá, não está é o tempo".

Quanto aos meios (as batas brancas, equipamentos), limita-se a sorrir. "Claro que não temos todos os recursos e por isso a capacidade de resposta da Medicina Legal portuguesa é muito deficitária. Não é por acaso que os juízes, os procuradores da República e os advogados protestam. A Medicina Legal portuguesa tem de preparar-se para as grandes mudanças que a actualidade exige".

No entanto, ironiza, "não teremos nunca laboratórios todos limpinhos como nas séries, mas nesses não se trabalha". O que se pode fazer "é abrir a possibilidade das instituições privadas com credibilidade técnico-científica servirem os tribunais em igualdade de circunstâncias com as instituições do Estado".

O curso livre que está a decorrer esta semana, na Universidade Portucalense, aborda diversos temas da Medicina Legal "que não se resume a cortar corpos. Isso faz-se nos matadouros. A autópsia em si é um acto de grande responsabilidade social", advertiu o coordenador.

A investigação, resume, tem "quatro partes o exame do que se ouviu e sabe, o exame do local, o exame do corpo e por fim o exame de tudo o que foi recolhido no local. Só assim se poderá chegar a uma conclusão", rematou.

Escoriações foram a prova

"A priori" tudo indicava que o homem teria morrido por ter caído de por uma ribanceira, porque se tinha desequilibrado, conclusão apontada também pelo seu passado alcoólico. Durante a autópsia, "verificou-se a existência de duas escoriações lineares, paralelas e no abdómen, cuja produção não era explicada. Mas poderia ser aceitável se no local existisse alguma superfície com duas saliências", explicou José Pinto da Costa.

Surgindo a dúvida, "fiz o exame ao local e não se encontrou qualquer pormenor que explicasse a existência das escoriações", acrescentou.

Esta informação foi transmitida à investigação policial. "Com este novo dado, voltaram a abordar aquele que tinha sido o primeiro a encontrar o corpo, que acabou por confessar que o tinha morto à pancada, com um gadanho".

A arma usada correspondia "às escoriações da vítima e assim se fez a justiça convencional. O assassino foi condenado por homicídio". Mas, acrescentou o professor, "só porque não foi uma autópsia 'light'".

fonte: http://jn.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=696000

Medicina Legal sobrevive com perícias a vivos

Exames a cadáveres são apenas 5% do trabalho feito pelo Instituto que ainda regista carência de médico-legais
2009-05-28

ALEXANDRA SERÔDIO

O Instituto Nacional de Medicina Legal realiza anualmente mais de 150 mil perícias, a maioria na área da Toxicologia Forense. Mas são os exames laboratoriais que mais receitas dão e que permitem ao Instituto auto-sustentar-se.

Com oito anos de existência o INML tem actualmente 33 serviços a funcionar no país, entre delegações e gabinetes médico-legais. Ao longo de 2008 realizou mais de 150 mil perícias, sendo que apenas 5% dizem respeito a autópsias. "Havia a ideia errada que a medicina legal era para os mortos, mas a verdade é que 95% do trabalho do Instituto é com vivos", revela o director do INML, afiançando que "grande parte do trabalho é laboratorial".

Não é de estranhar que, e segundo Duarte Nuno Vieira, "a grande receita do Instituto provenha das perícias realizadas em laboratório". O responsável garante que o INML "não recebe um cêntimo dos contribuintes" vivendo "exclusivamente das receitas que o próprio gera através do seu trabalho". As tabelas dos preços de cada exame estão definidas pelo Ministério da Justiça (MJ) e "as pessoas pagam o mesmo quer venham por via judicial quer venham particularmente", assegura o responsável.

Os testes de alcoolemia são os que dominam a tabela das perícias realizadas, muito por "culpa" da fiscalização rodoviária das forças de segurança. O ano passado, os serviços de Toxicologia Forense realizaram mais de 41.800 exames, entre os quais estão incluídos os testes de álcool, drogas, pesticidas, entre outros. Os serviços de Genética e Biologia Forense surgem a seguir com mais de 10.600 exames. Estão incluídos, entre outros, exames de vestígios criminais e de parentesco, e são os mais dispendiosos, logo seguidos das autópsias.

Duarte Nuno admite que as novas séries televisivas do CSI "vieram dar uma nova imagem á medicina legal" e lembra que, contrariamente à série "uma investigação não demora 45 minutos". "Por exemplo, para analisar um órgão, muitas vezes ele tem de estar 10 dias numa substância que o prepare adequadamente para ser analisado", explica o responsável reconhecendo que as novas tecnologias vieram encurtar o tempo de espera de um resultado.

Quem percorre os vários serviços do Instituto, em Coimbra, comprova facilmente essa certeza. Os vários laboratórios - onde é realizado 45% do trabalho do INML - estão equipados com moderno tecnologia e permite aos peritos desenvolverem outro tipo de iniciativas enquanto aguardam os resultados.

Duarte Nuno lembra que "há peritagens mais complicadas e que carecem de mais tempo". "As investigações policiais dependem muitas vezes das perícias medico-legais", afiança, revelando que o Instituto tem já em algumas delegações e gabinetes do país um perito de escala, 24 horas por dia, que acompanha a equipa policial ao terreno e faz de imediato o exame ao cadáver.

"Foi um passo importante" assegura o responsável que lamenta não ter mais médicos legais espalhados pelo país. "Temos ainda carência de pessoal, mas um médico legal não se forma num instante", refere.

Para colmatar a carência, foram feitos contratos com mais de 200 médicos do país, de outras especialidades, mas que trabalham para a Medicina Legal "a tempo parcial". "Nós damos formação específica a esses médicos".

fonte: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/interior.aspx?content_id=1245842